Dizem que a feijoada, conhecida hoje como um dos mais típicos pratos brasileiros, foi criada nas senzalas, quando os negros reuniam os restos de carne que sobravam dos senhores. Se até a iguaria mais famosa do Brasil tem origem africana, imagine o quanto o povo vindo daquele continente influenciou na nossa culinária.
Foi contando histórias como essa e ensinando receitas da mesma origem que Flávia Portela, idealizadora do Festival Cara e Cultura Negra, produziu o livro Gula d’África – O sabor africano na mesa do brasileiro (Editora Senac-DF). A obra foi lançada na edição de 2007 do evento.
Para organizar o livro, Flávia passou cinco anos pesquisando a cozinha africana e encontrou inúmeras curiosidades. Ela relata, por exemplo, que o dendê foi adaptado do azeite de palma da África para dar mais sabor aos pratos baianos. A rabada também veio de lá, mas recebeu novos temperos em terras brasileiras, assim como a canja de galinha e o baião de dois.
Nas receitas listadas na obra, Flávia Portela relata por que os pratos africanos geralmente são assados e cozidos, com pouca fritura: muitos dos países do continente vivem da agricultura e, portanto, verduras e legumes são os protagonistas dos pratos.
Na produção, há também textos do jornalista Leandro Fortes, que registrou: “Em um mundo dominado por chefs trajados de branco, debruçados sobre os clarões das labaredas de pratos flambados, é bom saber que esses ourives da culinária são assépticos herdeiros de mãos negras lavadas de sabão barato e história. Vieram da África as iguarias multicoloridas dos temperos bravos, a pimenta malagueta e o dendê, o leite de coco e a banana, o inhame e o quiabo, o jiló e o gengibre”.
Alcance internacional
Gula D'África, lançado na época em parceria com a Editora SENAC e com o apoio das Embaixadas Africanas sediadas em Brasília, chegou a ganhar o prêmio internacional Gourmand Awards, na categoria melhor livro de culinária estrangeira do mundo. As críticas divulgadas apenas reforçavam o entendimento internacional.
O reconhecimento fortaleceu ainda mais a necessidade de se discutir a influência africana na cultura do Brasil, mote principal do Festival Cara e Cultura Negra, que em 2019 terá sua 15ª edição. Este ano, o tema é Contemporaneidade Afrodiaspórica.
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