Glória Moura, Denise Botelho e Nei Lopes foram alguns dos convidados das mesas de encerramento do evento
A mesa Filosofias Africanas e Afro-brasileiras, mediada por Tata Ngunz1tala (DF), abriu o último dia (20/09) do Encontro Nacional Pensamento Negro Contemporâneo, no foyer do Teatro Nacional Claudio Santoro.
A professora Glória Moura (DF) destacou como são valiosas as heranças africanas e como essas heranças são vividas diariamente – sobretudo pelos candomblecistas -- e o doutorando em Ciências da Religião Sebastião Fernando da Silva (DF) discorreu sobre ancestralidade, família, negritude e resistência. Falou ainda sobre o culto do Ifá, que também foi tema da fala de Nei Lopes na mesa da tarde.
“É muito importante pensar as filosofias africanas e afro-brasileiras em suas diversidades, pois a própria ancestralidade é plural. Não somos filhos de um único ancestral”, comentou o professor Wanderson Flor do Nascimento. A mesa foi formada por pessoas de diferentes “linhas” de religiões afro-brasileiras, como Ifá e Candomblé das Nações Angola e Ketu.
Denise Botelho, professora da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), destacou o papel das mulheres no Candomblé e as potências das Yabá (orixás mulheres) Yemanjá, Oxum, Yansã e Nanã. “Por meio da força feminina somos capazes de transformar cenários”, disse.
Passado, presente e futuro
À tarde, o público acompanhou os debates da mesa Ancestralidade e Contemporaneidade, com mediação de Nelson Inocêncio (DF) e participação de Nei Lopes (RJ), Deise Benedito (DF) e Givânia Maria da Silva (DF).
Mestra em Direito pela Universidade de Brasília (UnB), Deise falou sobre sua experiência na área de criminologia dentro e fora dos presídios do Brasil . “O encarceramento é contínuo e começou com a captura de negros na África. Falar em ancestralidade é falar em direitos”, disse.
Quilombola e doutoranda em Sociologia, Givânia narrou a vida e os desafios em viver em Conceição das Crioulas, comunidade quilombola localizada no Sertão central do município de Salgueiro (550 km de Recife, PE). Givânia também mostrou dados da publicação “Racismo e violência contra quilombos no Brasil”, que comprova o risco de manutenção de vida e sobrevivência dos quilombos no país. “Lutar por um direito ancestral, que é o direito a terra, tem provocado mortes”, destacou.
Por fim, o escritor e compositor Nei Lopes falou sobre música e a importância do Ifá, sistema divinatório capaz de fazer prospecções do futuro. Pela complexidade que apresenta (fórmulas matemáticas como análises combinatórias; artes visuais com “tábuas” talhadas em madeira; e linguagem específica com metáforas, etc), o Ifá é considerado Patrimônio Imaterial da Herança Oral e Cultural da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, na Conferência Mundial (Unesco).
Museu Digital
Idealizadora do Festival Cara e Cultura Negra, Flávia Portela lembrou a plateia que os artigos produzidos por todos os participantes do Encontro Nacional Pensamento Negro Contemporâneo serão publicados no Museu Digital da Memória Negra – cujo lançamento aconteceu na abertura do Festival.
Criado para divulgar e preservar o patrimônio cultural afro-brasiliense em formato digital, o Museu também é fonte para a produção de material didático para pesquisas e ensino nas escolas e uma forma de conectar pesquisadores em estudos étnicos e africanos.
Fotos: Marcelo Dischinger/Reprodução
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